Só zooando

 
Creme de vômito 


         É minha ultima semana de ferias e estou indo visitar meus avós em Mildura. Estou em um daqueles aviões pequenos de 36 lugares. Estou sentado na janela, mas quero, também, a poltrona ao lado. Quero me espalhar para ficar confortavel. Acho que ninguém vai sentar aqui. De qualquer forma, por vi das duvidas coloquei um cocô de cachorro de borracha na poltrona.
   Tudo está indo bem. Esta quase na hora da decolagem, ninguém se sentou ao meu lado ainda, e há dois lugares vazios atrás de mim. Uma senhora idosa embarca no avião e vem entrando, arrastando os pés pelo corredor entre as poltronas. Se tudo der certo, ela vai sentar em um dos lugares atás de mim, depois a aeromoça vai fechar a porta, e eu vou poder relaxar. Mas a velhinha pára bem do meu lado. Não acredito.
  '' Não, não, não !  '' eu penso '' Continue andando !'' 
   - Com licença- diz ela - este lugar está ocupado?
   - Hmm, bem, não exatamente - respondi - mas eu não sentaria ai se fosse a senhora .. não está muito limpo 
   A velhinha se inclina sobre a poltrona e passa a mão nele.
    -É de borracha , acho que alguma criança deve ter posto isso aqui para fazer brincadeira
    Ela coloca o cocô no saco de vomito pendurado na frente da poltrona dela. Velhinha esperta. Mas como ela descobriu que era de borracha?Esse é o melhor cocô de cachorro de borracha que existe.Engana até o meu cachorro.
    - Bem, então eu posso me sentar aqui - diz ela - Você não se importa, não é? 
    Sinto vontade de dizer: '' Sim, eu me importo! Há um monte de lugares vazios ! Por que você nao se senta num deles?  Mas nao quero ser mal educado, ainda mais com uma velhinha. E não posso simplesmente me levantar e sentar em um dos lugares vazios, porque ela pensaria que estou sendo grosso. Talvez ela seja muito solitária e não tenha amigos. Se eu for sentar em outro lugar, isso pode ser a gota d'agua. Ela é que vai ter que udar de lugar.Ela coloca a mala de mão embaixo da poltrona e se acomoda, pegando uma maletinha de balas de menta. Preciso pensar rapido. Finalmente as portas são fechadas, e a aeromoça nos da as boas - vindas. Ela aponta para as saidas de emergência, para os coletes salva- vidas e para as mascaras de oxigênio. Que boas- vindas ! Mas isso me deu uma ideia. O motor é ligado, e o avião todo começa a vibrar. 
     - Espero  que a viajem não seja ruim, não me dou muito bem com viajens de avião. Passo mal só de pensar em avião. 
     - O que ?- ela pergunta - Você pode falar mais alto?
     Eu chego bem perto da orelha velha e enrugada. 
     - Eu disse que não me dou muito bem com viagens de avião! Sempre passo mal. 
    A velhinha sorri 
    - Que bom ! Então, podemos cuidar um do outro. Eu tbm não me dou bem com viagens de avião!
   Ah, que otimo ! Demais ! Ela não só pegou meu lugar, como talvez vomite em mim. O avião começa a andar fazendo barulho. A decolagem é o meu momento favorito. A voz do comandante surge nos alto falantes: 
       - Bom- dia e obrigado por voarem com a Southern Airlines. As condições de voo   para Mildura nesta manhã são praticamente perfeitas .. blah blah blah .. 
      - O que ele disse ? - pergunta a velhinha - O que ele disse?
      - Ele disse que vai ser uma viajem muito dificil, foram previstos furacões e tornados. Ele disse para agente segurar firme e rezar para que a pessoa sentada ao não fique enjoada. Ele também disse que quem quiser pode mudar de lugar daqui apouco, quando o avião parar de subir. 
     - Bem, eu não vou mudar de lugar - diz a velhinha - Agradeço a Deus por estar sentada ao lado de um homem grande e forte como você . Eu ficaria com medo se sentasse sozinha nestas condições
    Lentamente, o avião termina as manobras na pista. Então, começa a acelerar. Sinto meu corpo ser empurrado com força contra a poltrona, enquanto as rodascomeçam a sair do chão e subimosem direção ao céu. O piloto, é claro, está certo. Essa foi uma das decolagens  mais suaves da historia, mas eu me sacudo e balanço a poltrona para fazer com que pareça agitada e dificil
    - Oooohhh. Já estou passando mal. A senhora tem certeza que não quer mudar de lugar?
    - Não meu querido- diz ela segurando minha mão- eu vou cuidar de você.
               Droga ! O que eu fiz para merecer isso? Agora ela quer ser minha mãe ! Isso exige uma ação de emergencia. Nada de coletessalva- vidas ou mascaras de oxigenio. Isso tudo é absolutamente inutil para mim para mim. Uma situação como esta exige um pouco de creme de milho de emergencia. Na verdade, eu não chamo o creme de milho de '' creme de milho'' eu chamo de '' creme de vomito ''. Isso porque, na minha opinião, a única diferença entre creme de milho e vomito é que o creme de milho vem em lata .
Creme de milho parece vomito .
 Tem cheiro de vomito .
 Tem até gosto de vômito .
A única coisa mais parecida com vomito do que creme de milho e mingau , mas eu nen quero pensar em mingau , senão vou vomitar de verdade .
 De qualquer forma , sempre carrego um pote de creme de vômito para emergencias como esta . 
Tiro a minha mão da velhinha delicadamente. 
   - Esta tudo beim obrigado - eu digo 
   - Ja estou me sentindo muito melhor . 
   - Bem se puder fazer alguma  coisa por voce e so pedir - ela diz , 
      A aeromoça se levanta e começa aquela corida louca de um lado para um outro , oferecendo todos tipos de bebida e comida . O vôo normalmente demora uma hora . Quando ela terminar de servir chás, cafés, sucos de de fruta, refrigerantes e biscoitos embrulhados em celofane, já vai estar na hora de recolher os restos, guardar tudo, sentar-se, apertar o cinto novamente e aprontar- se para a aterrissagem. 
Ela chega até mim e a velhinha. A velhinha  pede uma xicara de chá e biscoitos. Minha vontade é de pedir de tudo, mas não posso. Para que o velho truque do creme de vomito funcione, preciso convencê-la de que estou realmente enjoado demais para comer.
  - Não quero nada, talvez só um pouco de aguá.
  A aeromoça volta com o chá. Enquanto a velhinha esta ocupada colocando açúcar e leite, pego minha mala de mão e procuro o creme de vomito. Quando eu tiver terminado, essa velhinha não vai mais querer sentar do meu lado. Ela nem vai querer ficar no mesmo avião que eu. Na verdade, vou dar um jeito para que ela nunca mais queira entrar num avião.
 Eu me viro para a parede, para que a velhinha não veja o que estou fazendo. Abro o pote. Fecho o nariz e coloco o creme de vomito na boca. Tento sugar o maximo possivel, mas sem engolir. Consigo colocar para dentro metade do pote. Ainda bem que eu tenho uma boca bem grande. Fecho o pote e guardo de novo na mala. Encosto novamente na poltrona, seguro a barriga e começo a gemer baixinho.
  - Você esta bem?- ela perunta
  Eu obviamente, não posso falar. Gemo novamente, agora mais alto
  - Vc quer um saco para vomito? - ela pergunta
   Eu faço que sim com a cabeça, ela pega o saco que ta na frente dela, o com cocô de cachorro e da para mim. Eu me balanço para frente e para tras e então, incho as  bochechas e finjo que estou vomitando no saco. Mas é claro que não só dentro do saco, eu dou um jeito de derramar no queixo e na minha blusa.
 - Oh, coitadinho - diz a velhinha - coitadinho desse bicho.
  O que?? Ela  está me chamando de bicho ?? 
 - Já estou bem, obrigado - eu digo - Estou me sentindo melhor.
 - Engraçado - ela diz - mas eu não estou me sentindo nem um pouco mal. Este é um dos voos mais tranquilos que eu já peguei. Você deve ter um estomago bem delicado mesmo.
 - Extremamente delicado - digo - Mas agora fiquei com um pouco de fome.
 - Ah, que pena - ela diz - Já é tarde demais para pedir alguma coisa. 
 - Tudo bem - eu respondo - eu trouxe de casa. A senhora me empresta uma colher?
 - Ah, claro, pegue. 
 Eu pego a colher. É agora. Num minuto, ela vai pular da poltrona como se fosseum foguete. Abro o saco. Passo a colher sob o meu nariz algumas vezes e respiro fundo.
  - Ahhh !  - digo, sorrindo. - Adoro quando está quente e fresquinho!
  Abro a boca e coloco a colher na lingua e fecho a boca. Tiro a colher bem devagarinho, limpinha. Fecho meus olhos e suspiro, como se estivesse no paraiso. Abro os olhos. O que espero é ver o assento do lado vazio. O que espero é ver o assento do lado vazio. O que espero é que a velhinha esteja o mais longe possivel. E que tenha avisado para todos nem chegarem perto de mim. Mas o assento não está vazio. Ela ainda está ali, olhando para mim. 
 - Estava bom? - ela pergunta
 - Maravilhoso - eu digo - Foi mais gostoso agora que entrou do que quando saio
 - Que bom - ela diz - Fico feliz. Coma mais um pouco.
  WHAT ??
Se ela dissesse '' vamos tirar a roupa e correr pelo corredor '', eu não ficaria surpreso.
- Hmm. o.k, obrigado. Vou comer, sim 
 Como  mais uma colherada. Só que, desta vez, termino com um arroto.
 - Desculpe - eu digo 
 - Ah, não tem problema - diz ela - em alguns paises , é educado arrotar após as refeições. É considerado um elogio ao cozinheiro.
 Essa velhinha é impertubavel. Se ela acha tudo isso normal, imagino como deve ser as refeições na casa dela. Preciso pensar em uma nojeira da pesada .
 Pego mais uma colherada, mas , em vez de colocar na boca, coloco na cabeça.
  - Também serve como xampu 
  A velhinha só balança a cabeça. Encho a colher novamente e, desta vez, espalho creme de vomito por todo o rosto. Esfrego nos olhos, nas bochechas, nas orelhas.
  - Também é um creme de beleza ótimo - eu digo - Você acha nojento?
  A velhinha só fica me olhando, com um leve sorriso no rosto 
 - Não - ela diz, claramente - Na verdade, eu adoraria exprimentar um pouco dessa comida maravilhosa que também serve como creme de beleza. Qual é o nome dela?
  Então a ficha cai. Coloco tres dedos na frente do rosto dela
 - Quantos dedos tem aqui? - Eu pergunto.
 Ela faz uma pausa .
 - Não sei, meu querido. Eu sou cega. Por que a pergunta?
 - Por nada - respondo, tentando não vomitar por causa do fedor de creme de vomito, que vai demorar meses para sair do cabelo. - Por nada mesmo. Mas eu acho que vou passar mal novamente.
 - Oh ! Coitadinho desse bichinho - ela me da mais um saco para vomito - Coitadinho, coitadinho !


                                                            Fim ..  





           Nascido para morrer 


Finalmente tomei coragem. Já estava pensando em fazer isso há séculos, mas sempre deixava para depois. Hoje de manhã finalmente decidi. Fiz uma tatuagem. É uma caveira com duas aguias viradas para cima. A  caveira tem uns olhos verdes malignos e uma especie de bigode vermelho comprido e fino que sobe até perto das asas. Embaixo da caveira, tem uma faixa na qual está escrito NASCIDO PARA MORRER. Não saio caro. Normalmente, uma tatoo dessas custaria caro, mas consegui um preço especial, e ela saio baratinho. E o melhor é que não doeu nem um poquinho. Foi só tirar a folha protetora e apertar o lado do adesivo na pele. Depois , molhei com uma esponja , esperei alguns segundos e tirei a perte de trás. Bem, não é uma tatoo de verdade - mas é tão boa que nem da pra perceber a diferença. E o mais surpreendente é que ela me faz sentir completamente diferente.Maior. Mais forte. Mais corajoso. Ninguém vai querer jogar areia em mim nem roubar minha namorada quando perceber que eu tenho uma tatoo com uma cara tão má. Não que eu tenha uma namorada nesse momento, mas, assim que verem a minha nova tatoo, aposto que todas as garotas da escola vão querer sair comigo, até msm as professoras. A cartela diz que a tatoo dura muitos dias , quase sempre. Tbm diz que vou chocar parentes e amigos. Mas não estou interessado em chocar perentes e amigos. Quero chocar meus inimigos, Steve e Robert. Steve mora na rua de baixo. Ele é alguns anos mais velho do que eu. A gente sempre fazia coisas juntos no fds, até que ele começou a andar com o Robert. Robert é um bobão de cabelo esquisito que mora no outro quarteirão.
  Ele tem cara de rato, com um nariz pontudo e olhos castanhos redondos.Acha que é o bom só porque tem uma bicicleta de 15 marchas e fuma. 
       
                                                             Continua ..